O milagre pentecostal e a ciência: rumo a uma racionalização do discurso religioso
Palabras clave:
Secularização, relação ciência e religião, imaginário pentecostal, racionalização do discurso religioso, abordagem da base para o topoResumen
Considerando a importância do pentecostalismo para 25% da população brasileira, a socialização dos fiéis da Assembleia de Deus (AD), e a reinterpretação, por estes últimos, do discurso científico hegemônico, configuram questões relevantes para estudar os novos vínculos entre a religião e a ciência. Inscreve-se em uma literatura que repensa as teorias da secularização, uma vez que o desencantamento do mundo não significa uma desaparição da religião, que a matriz religiosa permeia o imaginário social e a imaginação constituinte. Entendemos a ciência e a religião como dois sistemas de explicação do mundo que têm relações fluídas mas não se excluem necessariamente. Tomando a constante pentecostalização do Brasil, o objetivo é estudar as novas configurações das relações entre ciência e religião no imaginário e no discurso dos fiéis da AD. Este estudo propõe uma abordagem da base para o topo, cujo objeto é a relação entre o discurso científico, as crenças religiosas e as expressões democráticas dos membros. Baseia-se em uma pesquisa empírica por observação participante e entrevistas semiestruturadas em 4 igrejas do Estado de São Paulo (2014- 2015). O primeiro resultado mostrou que, apesar da ascensão social e da entrada na universidade dos jovens membros constituírem uma afronta aos valores pentecostais, os indivíduos encontraram o meio de usar o conhecimento adquirido no ensino superior para renovar as justificativas das suas crenças religiosas. A seguir, uma segunda conclusão revelou que a justaposição de dois registros aparentemente contraditórios não se constituiu em um problema, como mostra o uso recorrente de argumentos científicos para justificar suas crenças no divino e opiniões sobre as drogas, o aborto, etc., constituindo assim, uma « balcanização dos cérebros ».